sábado, 11 de setembro de 2010

Jornal de Angola notícia Frei João Domingos Fernandes








Fotografia: João Upale
Namibe

Frei João Domingos morreu, ontem, em Lisboa, aos 77 anos, vítima de doença, confirmou, ontem, em Luanda, ao Jornal de Angola, o pároco da Igreja do Carmo, António Estêvão.

De nome de registo Domingos Fernandes, o frei João Domingos morreu no memo dia em que completou o aniversário natalício.

Padre dominicano, João Domingos, nascido em 9 de Agosto de 1933, veio para Angola em 1982 e exerceu até à data da sua morte o cargo de reitor do Instituto Superior João Paulo II, em Luanda.

Reagindo à morte de frei João Domingos, o pároco da Igreja do Carmo, padre António Estêvão, disse ao Jornal de Angola que “é o pai dos padres dominicanos em Angola”.

O frei João Domingos, segundo o padre António Estêvão, encontrava-se desde Maio em Portugal por razões de saúde, onde chegou a ser submetido a duas intervenções cirúrgicas, em Junho e Julho.

O padre da igreja do Carmo disse que “quando frei João Domingos já estava a recuperar das intervenções cirúrgicas, há dois dias, teve um acidente vascular cerebral, que o levou à morte”.

O pároco do Carmo, local em que vivia frei João Domingos, visivelmente consternado, sublinhou que “o Domingos Fernandes, ou simplesmente frei João Domingos, era amigo dos jornalistas. Ele estava sempre disponível, porque dizia que os jornalistas multiplicam as nossas acções e a nossa mensagem social e religiosa é ouvida e lida por mais gente por intermédio dos jornalistas”, lembrou o padre.

Num rasgado elogio à figura de frei João Domingos, o pároco da Igreja do Carmo disse, à guisa de exemplo, que ele deixou de celebrar uma missa para dar uma entrevista a um jornalista e, no seu lugar, foi o próprio António Estêvão quem celebrou o culto religioso.

O padre António Estêvão, que não conseguiu conter as lágrimas na conversa com a repórter do Jornal de Angola, contou que frei João Domingos chegou a Angola em 1982 a convite de D. Zacarias Kamuenho, à época bispo do Sumbe, província do Kwanza-Sul, para começar um trabalho ligado aos padres dominicanos em Angola.

Mais tarde, frei João Domingos foi convidado, pelos bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) para ser o reitor do Instituto de Ciências Religiosas de Angola (ICRA).

Frei João Domingos nasceu na Serra das Estrelas, em Portugal, obteve a sua licenciatura em Teologia, em França e um mestrado na mesma área no Canadá.

Foi superior dos padres dominicanos em Angola e o primeiro pároco da paróquia do Carmo, em Luanda. Frei João Domingos fundou o Instituto Superior João Paulo II e é fundador do Centro Cultural Mosaico.

Na noite de ontem, em sua memória, fiéis católicos celebraram uma missa na Paróquia do Carmo. Segundo o pároco António Estêvão, os restos mortais do frei João Domingos, que teve 53 anos de sacerdócio, vão ser sepultados às dez horas de amanhã , em Portugal, sua terra natal.

“Frei João Domingos pediu que fosse sepultado onde morresse para não dar trabalho aos irmãos da congregação”. Domingos Fernandes adoptou o nome João Domingos depois de receber a ordem dos padres dominicanos.

Antes de vir para Angola, frei João Domingos foi director e professor no Seminário Dominicano português, professor de Filosofia no Centro de Estudos de Fátima e de Teologia na Universidade Católica de Lisboa.

Em Angola, exerceu os cargos de reitor e docente de Doutrina Social da Igreja no Seminário Maior e no Instituto de Ciências Religiosas de Angola.

Foi ainda professor de Deontologia no curso médio de Educadores Sociais e Doutrina Social da Igreja e Direitos Humanos, no Seminário Maior de Luanda, e do curso de Educação Moral e Cívica e de Teologia Pastoral, no Seminário Maior de Luanda.

Em 1998, foi agraciado com a comenda da Ordem Mérito do Estado Português.



Reacções de políticos



O secretário para a informação do MPLA, Rui Falcão, considerou, em declarações ao Jornal de Angola, que Frei João Domingos “era um sacerdote da Igreja Católica que esteve profundamente ligado aos problemas sociais e políticos do país”.

Rui Falcão acrescentou que frei João Domingos “era um homem culto, inteligente, participativo e que dedicou parte da sua vida contribuindo para a melhoria das condições do povo angolano, principalmente dos fiéis católicos”.

O deputado da UNITA Jaka Jamba, afirmou que frei João Domingos “foi uma figura destacada na defesa dos valores morais e espirituais”. Em termos de intervenção, Jaka Jamba disse que o sacerdote defendia a dimensão integral da pessoa humana.

“Frei João Domingos desempenhou um papel importante no âmbito da formação integral da juventude angolana”, afirmou o deputado da UNITA.

Justino Pinto de Andrade afirmou que “o país perdeu uma referência moral e ética por ter desaparecido um homem bom que dedicou todo o seu esforço ao serviço dos outros, sobretudo aos mais desprotegidos”.

O docente universitário referiu que frei João Domingos era um homem que, nas suas intervenções, foi sempre ouvido com muito carinho e atenção.

“Foi um homem de uma grande nobreza e um verdadeiro amante da paz”, acentuou o analista político Justino Pinto de Andrade, considerando-o “a figura mais extraordinária que o país teve”.